sábado, 27 de janeiro de 2018

My black heart

Zoe Kravitz por Hedi Slimane

Yey.
Venho de um bom dia num momento meio ruim. Mas não quero falar disso especificamente.
Nos últimos tempos tenho notado coisas que estão na minha vida já há algum tempo, talvez há um tempo considerável, e que só agora eu venho perceber que me fazem mal ou irritam. Não sei se vou conseguir me expressar direito, mas acho que estou falando de quando nós permitimos que coisas ruins existam na nossa vida por simples comodismo, sob pretexto de não perturbar a ordem, e muitas vezes a própria coisa acaba  tomando proporções de perturbação, até o momento em que talvez tenhamos que reconhecer uma participação nossa na coisa toda.
Algumas questões ultimamente têm me machucado muito, me feito mal porque me fez reconhecer violências que eu sofro vindas de pessoas que estão no meu círculo de pessoas há muito tempo. Acho que não quero entrar em detalhes demais, mas nos últimos dias mergulhei um pouco numa reflexão sobre minha posição quanto a comportamentos preconceituosos. Acontece que uma pessoa tem frequentado minha casa nos últimos meses, e apesar de desde o início ter se mostrado preconceituoso, com falas um pouco sem noção, eu relevava tudo porque ou levava pro lado da piada ou simplesmente inventava um motivo na minha cabeça pr'aquilo. Mas com o tempo, ao invés de diminuir esses comentários, ele piorou, e ultimamente tem sido insuportável pra mim ficar por perto quando ele está na minha casa. Ele fala todo tipo de besteira que se possa imaginar: piadas racistas, machistas, comentários homofóbicos e etc. Tudo em tom de piada, e incessantemente. Está num ponto que mesmo eu evitando ao máximo o contato com ele, uma ou duas vezes por dia sou obrigada a ouvir um comentário idiota sobre negros ou ele diretamente me chama de gorda. Sim, ele já fez isso várias vezes, e foi quando eu parei de tentar ser amigável. Uma pessoa que não tem o mínimo de consideração a ponto de me xingar na minha frete não merece o meu esforço de amizade. Depois disso, os outros comentários dele foram me parecendo cada vez mais violentos, mais desagradáveis, e ser obrigada a ter ele na minha casa agora me deixa triste e cansada. Mas vamos a alguns pontos.

Meu primeiro pensamento ao notar a violência dos comentários dele foi: como diabos, um garoto branco entra na minha casa onde vivem 4 mulheres negras, e faz constantemente piadas sobre negros e mulheres, diretamente, muitas vezes com uma de nós como alvo direto (eu ou minha irmã), e nós, além de não nos protegermos, permitimos isso, e servimos pra ele almoço, sobremesa, gentilezas e espaço no sofá e na mesa. Como diabos isso acontece??
Essa foi a primeira coisa que passou na minha cabeça. Ele vive sem limites, falando todo tipo de coisa perto de seus "alvos" de piada, de sua família (que também não esboça a menor reação de represália) e ninguém, ninguém, nem os que são ofendidos, nem os que deveriam se sentir culpados pelo seu comportamento tentam dizer algo. Como pode ser possível que um racista tenha espaço, tenha a amizade, o amor de pessoas negras? Então depois disso tudo, lembrei do meu pai.
Lembro de volta e meia na infância, ouvir minha mãe chamar meu pai de racista. Acho que às vezes não entendia, e quanto entendi, discordei, afinal de contas ele era casado com uma negra, pai de três meninas negras. Não haveria como ele ser racista, não é?
Mas essa semana, repensando mil coisas que ouvi, e ouço, que vi e vejo, lembrei que sim, meu pai é racista. Digo que lembrei porque sempre esteve lá, o racismo dele com ele, e essa interpretação dentro de mim, meio que circulando longe desse significante tão pesado. Acontece que pesado era meu pai vendo um negro casado com uma branca na tv, dizendo que era um desperdício uma mulher "daquelas" com um cara daqueles. E pesado foi também a piada que ele me mandou essa semana por whatsapp com a imagem de um garoto negro, provavelmente deficiente, comparando ele a um macaco. Quando vi essa mensagem, estava bem em meio a um turbilhão de pensamentos sobre essa questão, e esse turbilhão aumentou mais ainda. Como pode meu pai ser racista sendo pai de filhas negras? Como pode ele não ser racista me enviando uma piada daquelas? Como pode, ele sendo racista se sentir no direito, ou ao menos não se incomodar de enviar aquela piada pra uma pessoa negra, que deveria merecer, no mínimo, seu respeito?
Sinceramente não sei o que se passa na cabeça de uma pessoa dessas. Eu não sei o que meu pai ou o namorado da minha irmã pensam ou querem quando dizem ou me mostram essas coisas. Querem reafirmar algo pra eles mesmos? Querem reforçar em suas cabeças que podem fazer essas coisas porque negros não se incomodam? Eu não faço ideia, e não sei se quero saber. Só sei que nesses últimos tempos, descobrir, lembrar que existe esse tipo de gente a minha volta me deixou muito triste e cansada.

Com isso, estou passando por toda uma reflexão sobre coisas na minha vida que estão lá sem o menor direito de estarem, me machucando, me ofendendo.  Com isso tudo, tomei o pensamento de que não posso mais deixar esse tipo de coisa acontecer. Essas pessoas simplesmente não podem ter mais espaço na minha vida.
Gosto de pensar que posso cuidar de mim, e isso envolve responsabilidade com os meus sentimentos, com meu estado emocional. Eu não preciso definir ou mudar o que eles fazem comigo, mas o que eu deixo fazerem é sim, responsabilidade minha. Não sei com quem vou falar primeiro, se eu vou precisar falar mesmo ou não. Mas as coisas não vão continuar como estão. Pelo menos não a minha volta.
Que os parasitas mudem de lugar.

Pra completar, essa semana vi o documentário 13a emenda, que dispensa comentários. Eu quase chorei várias vezes assistindo ele, porque meu povo ainda sofre, e eu fui tão cega por tanto tempo. Tomar consciência de algo é uma coisa que até que aconteça, fica indescritível. Não dá pra falar sobre o que você não sabe enquanto você não admitir, ao menos, que não sabe. Então acho que a única forma de lidar com as diferenças, com esses abismos de consciência, é lidando com o espaço da dúvida, quero dizer, dando espaço pra que exista dúvida. Temos que nos descobrir um pouco ignorantes todos os dias pra que no dia seguinte a gente possa se descobrir um pouco mais informados. Acho que esse é um caminho.

Dill, xx.

quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

Back here (been up to)

Okeey, agora o post sai. É sério.
Já tentei começar mil vezes esse post, mas simplesmente não consigo me concentrar. O tempo ocioso das férias me deixa meio aleatória.

Estou numa fase muito boa das férias. No início passei muito tempo em casa, muito mesmo. Acho que estava descansando do final do período, que é sempre pesado. Mas agora comecei a sair, e já fiz umas coisas bem legais. Saí com uma amiga um dia, e fomos numa cafeteria muito legal no centro do Rio. Também fui com minhas irmãs e um amigo ver exposições no centro, que fazia tempo que eu não via.
Vi uma exposição do Raymond Depardon que é a melhor que já vi. Tinha um curta sobre ele passando na exposição, e é lindo como ele faz as fotos, como ele pensa a fotografia. Gosto mais desse tipo de fotografia que retrata o dia-a-dia, como uma espécie de arquivamento do passado, dos momentos, dos jeitos. É o mais simples, e o melhor.

Tirei várias fotos nesses dias, e tive dificuldade em ficar a vontade pra isso. Fico muito apreensiva por causa das pessoas, tenho medo de alguém me ver tirando foto dela e de reclamar, fazer alguma coisa. E além desse medo, também tenho medo de assaltos, é claro. Aí acabo ficando muito tensa na cidade, e perco muitas fotos.
Enfim, estou tentando ver o que posso melhorar. Percebi algumas coisas ruins no meu enquadramento e distância também. Queria fotografar mais de perto, ver detalhes das coisas, que é como eu vejo agora. Gosto mais dos detalhes do que do todo. Só que também notei que nunca fotografo pessoas de frente, todos estão sempre de costas. Por mais que eu goste do lado anônimo que isso dá pra foto (acho legal não identificar a pessoa, acho que assim dá pra imaginar que ela é qualquer uma), acho que isso vem da minha falta de coragem, do meu medo das pessoas. Talvez eu comece a me esforçar pra registrar as coisas de frente.

Essa semana tive uma descacetada em matéria de compras. Acontece que já faz um tempo que eu engordei, e também cresci mais, e agora, talvez pelo calor que tem feito também, eu não estava suportando mai nenhuma das minhas calças. Tinha duas jeans tão coladas que eu não estava aguentando nem olhar.
Essa semana comprei duas novas, e apesar de um medinho da fatura, estou feliz de ter roupas confortáveis de novo.
Primeiro comprei uma mom jeans, que eu queria há muitoo tempo. É difícil lançarem uma bonita dessa no Brasil, aqui a maioria esmagadora é Skinny. Aí vi uma perfeita essa semana no shopping, tirei foto e fui pra casa. Olha, eu sou muito ansiosa com essas coisas. Pensei muito, muito na calça e decidi que precisava dela (haha). Aí saí hoje no inferno que está o Rio de janeiro só pra comprar minha bb. Não me arrependo ainda.

Também tinha comprado, já há umas duas semanas, um copo térmico. O pedido deu alguns problemas, mas chegou hoje finalmente. É um copo lindo, lindo, de Harry Potter, com a estampa do Mapa do maroto (a arte mais bonita de HP na minha opinião) e com glitter. Se eu mesma fizesse, não faria melhor.

Bom, com isso sigo nas férias. Estou tentando ler mais, coisa que está bem falha. Mas acho que o que mais estou tentando seguir nessas férias é deixar tudo o mais calmo possível. Acho que estou deixando a preguiça tomar conta, hahaha. Se for o melhor pro meu coração, que seja.

Até mais.

Dill, xx.