sexta-feira, 12 de maio de 2017

Unlovable me


Too angry to love
 Mais uma vez falo de uma recém terminada sexta-feira em que eu sinto o alívio do término da semana.
Nas primeiras semanas em que tomei o antidepressivo, me senti muito alegre, muito mesmo, como nunca me sentia. Tudo parecia maravilhoso. De uns tempos pra cá não tenho sentido mais isso, penso que talvez eu esteja me acostumando com o remédio ou algo assim. Mas continuo com um bom-humor natural e nunca mais fiquei tão ranzinza quanto antes. Ainda estamos ganhando.

Ultimamente tenho passado por umas experiências que estão me deixando encurralada, sem saber o que fazer. [ok, tomando coragem]
Tenho notado pessoas tentando iniciar contato comigo, através de olhares geralmente, e eu estou completamente sem saber o que fazer. Pra começar não sei distinguir uma aproximação comum de uma aproximação "amorosa". Ou sei, e prefiro fingir que não entendo. Há muitos anos não consigo fazer amizade com meninos porque essa coisa sempre entra em jogo, e nunca sei o que está acontecendo. Só que o que tem me incomodado ultimamente é que sinto que estou perdendo oportunidades nos dois tipos de coisa, amizades e relacionamentos.

Quanto a amizades, já fico triste o suficiente por não ter mais amigos. Muitas vezes ouço grupos de pessoas conversando no campus, e geralmente de garotos, com assuntos super legais que minhas amigas não conversam e que eu queria participar, mas sei que nunca conseguiria me aproximar. Mesmo se isso fosse uma intenção deles, sei que eu diria não e iria embora, provavelmente de cabeça baixa. Isso acontece constantemente na faculdade, e eu tenho ficado mais triste ultimamente porque nunca antes minha aproximação com outras pessoas foi tão possível, e ainda assim eu pareço não conseguir algumas das coisas que mais quero.

Entrando no campo sentimental, a coisa complica ainda mais. Eu não sei dizer o que eu sou, como sinto, nada disso. Até agora nunca tive nenhuma experiência "romântica", nenhuma sequer, nem paqueras, nada do tipo. Não exatamente por falta de oportunidade. Já tive garotos com interesse em mim, que eu afastava assim que notava isso. Me tornei mestre em repelir pessoas. O ruim disso, é que atualmente me sinto uma criança quando no meio adulto eu não sei reagir a um olhar ou alguma atitude. Eu fico assustada ou irritada, sempre. Não tenho paciência pra esse tipo de coisa, não sei exatamente por quê.
Ao mesmo tempo, me vejo o tempo inteiro procurando despertar o interesse de pessoas. Penso que isso talvez seja por causa do bullying que sofri por muito tempo por ser feia, pra mim faz sentido pensar que por isso estou sempre "checando" minha beleza no olhar dos outros. Gosto quando me olham desde que seja em um ambiente onde um segundo contato com aquela pessoa não seja possível, porque eu não quero nada com ela, provavelmente.
E aí mora outro problema: eu nem sei se quero algum tipo de relacionamento. Na verdade eu sei, eu não quero. Mas eu queria tanto querer, que custo a admitir isso pra mim mesma. Porque a verdade é que estou bem pra caramba sozinha. Gosto de ter amigos, de conversar com pessoas, de me divertir, mas não sinto necessidade de envolvimento amoroso com ninguém. Demorei muito a perceber que toda a minha preocupação com relacionamentos durante a minha vida girava em torno não de uma necessidade minha de ter alguém "pra mim", mas sim em tentar ser normal, em me encaixar, em fazer algo que todo mundo faz, sumir na multidão como estou sempre tentando. Sempre estou tentando me camuflar porque as piores experiências que tive aconteceram quando de alguma forma eu chamei atenção ou chamaram atenção pra mim.
Essa coisa de não sentir a menor necessidade de envolvimento amoroso com ninguém me deixa louca. Eu já percebi que tenho grandes problemas em me aceitar e esse é um deles. Tem acontecido comigo de garotos bonitos, interessantes e aparentemente legais me olharem com interesse e eu me revoltar por não querer nada com eles. Olho uma pessoa daquelas e penso: como posso não querer isso?? Vejo tantas pessoas procurando alguém, e me sinto uma idiota quando dispenso todo e qualquer um.

Uma outra questão que me bateu muito na cabeça essa semana: eu sinto frequentemente que por ser mulher, por ser (agora) relativamente bonita, que a minha beleza devia ter uma função, devia ser usada. É estranho, mas eu sinto como se fosse quase errado eu ser bonita e não querer "usar" isso com outras pessoas, em relacionamentos ou não. Pensei que isso é uma demonstração da cultura horrível que nós temos onde a mulher tem uma função quase exclusivamente sexual. Tudo o que a mulher faz, mesmo que seja estudar, aprender, parece ter a função final de a tornar mais atrativa sexualmente. Parece que na mulher tudo visa o fim de servir aos homens, e nem falo de um homem exclusivo ao qual ela pertença, mas de todos os homens. A raiva/reprovação que uma mulher "feia" ou "descuidada" gera demonstra claramente que na cabeça da maioria de nós a mulher tem função visual, de embelezar, seja um ambiente, uma loja, ou um homem ao lado dela. Com essa minha preocupação em "dar uma utilidade pra minha beleza" me senti triste ao perceber que compactuo com esse pensamento. É muito louco como a mulher realmente não é vista como pessoa, mesmo por mim que sou uma. Me sentir culpada, triste por não pôr minha beleza a serviço de ninguém é loucura. É esse tipo de coisa que acho que um homem nunca poderia entender.

Bom, sei que parece um problema ridículo, porque somos ensinados que a vida amorosa é complicada quando não nos querem, e outros mil problemas, mas pra mim é isso. Não sei o que fazer porque pra mim é impossível fazer coisas que eu não queira. E pensando bem, seria ruim até pra outra pessoa, se ela estivesse procurando algo sério. Não consigo me ver namorando ninguém, essa é a verdade.

Sou um et? Hahahah, bom, me sinto como um. De qualquer forma, acho engraçado como a vida pode ter dos mais diversos problemas.

Escrever aqui me ajudou e espero continuar meu trabalho de auto-aceitação. Quero aceitar a mim e a todos os tipos de pessoas que existem.

Et que personne ne soit oublié.

Dill, xx

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