quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

To exist

violent lives

Sempre venho aqui com algo diferente no coração.
Hoje, venho de um dia muito bom, com muitos acontecimentos bons, mas não de um dia calmo. Meu coração estava perturbado desde de manhã, na verdade desde ontem à noite, quando eu me lembrei de algumas coisas que preferia não lembrar.
Lembrei de como me sentia mal aqui em casa, ofendida pela minha mãe principalmente, e da força das ofensas dela em mim. Ontem, uma palavra dela me ofendeu muito porque foi um repúdio ao meu mau humor habitual e constante lamentação, que eu sei que são difíceis pras pessoas ao meu redor. Mas sendo essa uma coisa tão minha, tão velha e parte de mim, um repúdio forte à isso acaba sendo sentido como um repúdio a mim como pessoa. Me senti indesejada, desagradável, um incômodo. E sei que era verdade, mas não em totalidade. Meu mal talvez seja pensar e levar tudo muito ao extremo e com muita força. Mudo de direção muito rápido, e de um jeito muito bruto. Acabo vendo coisas que não são verdade, pelo menos não por completo.

Não sei exatamente o que minha mãe sente sobre mim, mas acho que eu devia parar de tentar descobrir ou adivinhar, porque isso me machuca muito. Me lembrei de como imploro por qualquer reação dela, só pra checar se continua a mesma coisa. Lembrei de como minha casa pode ser uma lembrança constante de que sou fraca e inútil, e isso é fatal. Fatal mesmo. Porque ontem também lembrei de como eu às vezes acho que vou morrer cedo e ponto, não tem o que fazer e estou apenas adiando a morte. Não descarto minha morte voluntária porque hoje mais ainda sei como minha doença pode ser insuportável, e como cansa ser assim. Não me sinto vivendo, de maneira alguma. Estou sempre suportando e esperando. E me revoltando também.
Ao mesmo tempo, consigo viver. Estou aqui, passando os dias, rindo. Mas no fundo uma dor que não passa e na cabeça sempre uma coisa me alertando pra como tudo está muito errado e não tem jeito. Por isso gosto de personagens como a Vanessa Ives. Se sentir amaldiçoado é algo pesado e único no sentido que não pode ser explicado ou compartilhado.
Mas é isso, sinto que estou fadada à desgraça. Sinto isso com muita força e digo com sinceridade. Me parece muito natural que eu nunca vá ser feliz por completo, e me sinto uma idiota quando acredito que posso. Porque minhas condições não me permitem isso.
Nessas horas me pergunto qual a utilidade de uma vida como a minha.

Enfim, vim aqui porque minha vida aqui em casa está com um elefante gigante, com uma pessoa que foi instalada aqui e que está me incomodando muito, em muitos sentidos. Mas estou me preocupando em entender o que estou sentindo, e talvez por quê. É muito difícil explorar esse tipo de sentimento, que geralmente revela algo muito ruim sobre a gente.
Sempre tive uma enorme dificuldade em abrir meu ambiente familiar, física e simbolicamente. Desde abrir a minha porta à chamar alguém de fora por um nome familiar, sempre fui muito protetora e reclusa nesse ambiente que pra mim tem que ser seguro, discreto e não permitir intrusões. Nesses últimos tempos a presença de alguém que eu considero de fora na minha casa tem sido um ataque diário à essas coisas que são importantes pra mim. Me sinto sem controle, e desconsiderada também. As coisas estão sendo feitas arbitrariamente, e não sei como falar disso sem soar ciumenta, egoísta e incoveniente. Sei que estou sendo tudo isso agora. Mas a forma com que as coisas estão sendo feitas também não são das melhores.
Enfim, estou num momento muito misto, me sentindo calma e feliz em alguns momentos e muito estressada em outros.
Não gosto das coisas como estão, definitivamente, mas vejo muito pouco que eu possa fazer.

Eu queria falar que hoje foi divertido porque comprei algumas coisas bobas e felizes. Um quadro da Brigitte Bardot, um gatinho de pelúcia e uma escova progressiva pra fazer em casa.
Estou com tarefas ainda pra fazer, e tentando de certa forma seguir com elas com o mínimo de prejuízo. Hoje foi difícil porque eu estava ainda rancorosa de ontem e acho que ainda estou. Sinto que esse rancor vai se acumular nas férias, mas vou tentar lidar com isso de uma maneira que eu cresça nisso tudo.

Assim vou seguindo até morrer. É engraçado porque às vezes percebo de verdade que vou morrer e fico bem triste. Acho que minha vida vai ser triste de qualquer jeito, e quando ela acabar, vai ser triste porque isso vai ser uma certeza. De novo, não sei qual o valor de vidas como a minha. Pra mim, é muito importante registrar ao máximo como eu penso e como me sinto, porque sei que ninguém entende. Sinto que se eu não escrever, vou ter nascido, vivido e morrido em silêncio.

Peço desculpas e espero ter contribuído.

Dill, xx.

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