quinta-feira, 31 de maio de 2018

Remember this

Estou vivendo mais uma crise. No meio disso, estou tentando identificar o que me faz mal aqui, como sair disso, e evitar voltar. Fico tentando identificar pontos onde eu me destruo, porque saber, conhecer as coisas como elas são é uma das únicas maneiras de se interferir de verdade num problema. Estou tentando ser sincera no meu olhar.
Quero passar um tempo sem voltar pra casa, apesar de esse nome ser meio vago pra mim agora. Estou sem um lugar pra chamar de casa já há algum tempo. Fico entre as coisas, viajando entre um espaço e outro, sem conseguir construir nada de concreto em nenhum dos dois. E o caminho já se tornou muito exaustivo pra mim. Tenho a impressão de estar sempre perdendo tudo, pra depois recuperar um pouco e perder tudo de novo. Tenho momentos onde me sinto em um contexto, em uma rede, mas é sempre momentâneo, e pouco tempo depois estou sem lugar.
Me sinto sem endereço, sem lugar, sem espaço. Uso espaços que não são constantes, não são meus de verdade, e isso é inquietante pra mim, de forma que nunca consigo ficar realmente bem.
E nesses últimos meses o que mais tem me ocorrido é que eu não tenho nada. Nada é meu. Apesar de eu estar sempre irresponsavelmente comprando, de eu me alimentar, ter uma certa quantia de dinheiro pra sobreviver, minha relação com essas coisas não é de posse, é de permissão. Sinto que só tenho o que tenho porque me permitiram, me concederam, e ainda assim, de forma instável porque sinto que posso perder qualquer coisa a qualquer momento. O jeito que minha mãe se porta comigo e as coisas que ela fala deixam isso bem claro. Nada é meu. Eu não tenho nada.
E ser uma garota de 22 anos sem absolutamente nada seu, pra mim, é muito frustrante. A sensação de fracasso que eu tenho sentido na vida só tem crescido no último ano, e cada vez mais eu sinto que sou um nada.
Tenho uma personalidade esquiva por natureza, de forma que nunca me implico nas coisas, nunca me envolvo porque não consigo aguentar a exposição. Tentar as coisas é um investimento acima de tudo pessoal, no sentido de pessoa. porque você investe a si mesmo acima de tudo. E pra mim, que sempre pensei ter e ser muito pouco, investir tudo é uma completa insanidade.
Com esse post eu só queria deixar uma coisa pra mim, pra que eu me lembre das coisas como elas são, da minha realidade crua.
Sempre vivi em refúgios, físicos e mentais, da minha realidade, e acho que a maioria de nós faz isso. Sempre fantasiei muito porque minha realidade é vazia. Acho que nunca aguentei olhar pro nada porque ele reflete a mim mesma, a pior parte de mim; o meu todo.
Eu só queria lembrar de não voltar pra casa esperando reconhecer aqui um lugar, porque esse lugar está gasto e se desgastando. Me dói muito perceber que o meu lugar aqui está enfraquecido e se enfraquecendo, e que eu não tenho como me manter investindo nele sem perder muito do outro lado. Talvez tudo isso seja sobre uma escolha, sobre aonde devo estar, e me implicar nessa presença.

Eu só não quero voltar pra casa esperando coisas que não vou ter, porque não as tenho mais.

 Se posso citar algo de otimista sobre isso, deixo Fernando pessoa falar:

"Não sou nada. Nunca serei nada. Não posso querer ser nada. À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo."

Dill, xx.

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