domingo, 21 de outubro de 2018

Way out


Achei que devia vir escrever aqui. São 23h e pouca e vou acordar extremamente cedo amanhã, que é daqui a pouco. Sempre a mesma coisa. Tenho essa rotina de ter uma pequena crise nas noites de domingo.
Estou bastante nervosa, e embora eu tenda a achar que é pelas coisas que vou ter nessa semana (algumas coisas na faculdade) eu acho que é mais o café que eu tomei de tarde achando que ia conseguir estudar alguma coisa ainda. Vou criar uma regra pessoal de não tomar café aos domingos.

Tive que tomar um rivotril agora e o sono deve começar a chegar. Estou num misto de nervosismo e desleixo com as coisas da faculdade essa semana, e isso é o melhor sentimento que eu alcanço em meses. Pelo menos voltei com uns 15% de animação, por essa semana que passei em casa. E hoje o sentimento de ter que pegar o ônibus amanhã não está me matando tanto. Só bastante.
Sempre ruim me afastar daqui, mas estive repensando tudo (como sempre) e acho que preciso mudar meu rumo totalmente. Estou no processo ainda de entender isso mas é verdade que faz tempo que eu sei que não sou normal e isso sempre me causa muita dor. Muita mesmo. Nas minhas piores crises, o pensamento de que sou anormal agarra na minha cabeça e me rasga por dentro. Sempre choro muito, entro em desespero. Sou anormal em vários níveis, mas com certeza primeiramente fisicamente. Tenho o corpo inteiro manchado e não sei se já falei isso aqui. Literalmente cheio de manchas intermináveis, que eu já passei pela fase de ter raiva por meus pais não perceberem o quanto eu precisava resolver isso, pela fase de tentar sozinha resolver isso (o que me desgastou muito, financeira e emocionalmente), e agora acho que estou começando a entender como isso simplesmente faz parte de mim.
Não estou falando de achar isso bonito ou algo assim, porque pra mim unir o senso comum com o que eu vivo ainda é impossível. Mas falo de perceber que eu sou diferente e pela primeira vez dizer que minha vivência vai ser diferente e limitada em algumas coisas sem o peso mortal disso. Porque acho que é isso, sempre que chegava nessa conclusão eu percebia que preferia morrer. Viver castrada, quebrada, pra mim é impossível. Na verdade, não acho que ninguém consiga viver se sentindo assim, se vendo assim. O jeito é criar outra visão de você.
Não acho que estou conseguindo me explicar muito bem, mas eu quero dizer que nos últimos dias tenho ficado mais calma em saber que não vou viver como a maioria, e acho que está tudo bem. Na verdade existem várias outras coisas possíveis, e mesmo algumas só possíveis pra mim. Não é fácil, e continuo me vendo como uma certa tragédia, mas acho que começo a encontrar meu valor no meio disso. Tem muita coisa que eu posso ser aqui, muita mesmo.
Claro que algumas coisas ainda vão ser difíceis, mas acho que talvez minha vontade quase constante de morrer passe, ou diminua.
É estranho perceber agora que tudo o que eu sentia era realmente vontade de morrer, destruir tudo o que eu sou. Acho que pra mim o maior dos horrores sempre foi ser eu mesma.
Estou tentando explicar como eu posso ter uma vida anormal e tranquila.
Eu sempre me voltei pra biografias de filósofos e poetas quando procurava algum conforto por identificação porque só vidas pautadas pelo sofrimento me trazem identificação. Sofrimento constante, legítimo, expresso e sentido é a maior parte da minha vida. Nunca deixei de sentir o peso que é ser tudo o que sou ao mesmo tempo, e na maioria das vezes isso me matava. Eu morria e ficava morta por tempos até voltar a acreditar que poderia ser outras coisas, ou pensar em um problema enquanto esquecia o outro.
Enfim, essas biografias sempre me confortaram pelo fato de mostrarem pessoas que foram produtivas, geralmente não apesar do que eram, mas por causa do que eram. Existir de um jeito quebrado não te permite a vida inteira, mas te permite a vida partida. Olhar as tragédias, os horrores, seus maiores medos nos olhos e sobreviver todo dia é algo que tem muito valor, e isso tem que ser dito. Não somos menos por sermos incomuns. Sempre me refiro a mim como errada, e talvez ainda leve muito tempo até que essa palavra não me martele a cabeça, mas começo a ver valor no viver diferente.
Acho que me sinto um pouco mais animada também pra tentar esses modos de vida, com o que eu preciso.

Eu sempre estive tão focada em me manter tentando que não percebia que talvez a resposta fosse parar de tentar.

Estou muito ansiosa ainda, apesar do remédio, mas não quero mais escrever aqui. Vou publicar, por mais doido que esteja, e sei que vou ter que terminar esse pensamento mais tarde.

No momento estou tentando me importar menos, pensar no Natal chegando e tomar decisões melhores todos os dias. Não sei se consigo. Mas estou cansada de evitar a dor, de fingir e carregar meu cadáver por todo lado. Queria ao menos uma vez estar viva.

Dill, xx.

Nenhum comentário:

Postar um comentário