Acordei mais cedo que o normal com o propósito de estudar e ler umas coisas que tenho que ler. Mas estava desanimada desde que abri os olhos, e estou querendo escrever desde ontem.
Que eu estou desanimada desde o início do ano está bem claro nesse blog. Estou numa fase longa e difícil, e com certeza tentando o meu melhor nela.
Ontem tive uma aula sobre Winnicott que gostei muito, acho que dentre as psicanálises que vi até agora é a mais coerente pra mim. O professor deu alguns exemplos sobre casos de pacientes, e eu me identifiquei muito, e continuo pensando que necessito de um psicólogo, mesmo sem a menor ideia de como fazer isso.
Acho que queria escrever aqui pra falar do vazio criativo que tenho sentido, e que tem me incomodado muito. Já faz tempo que eu não estava conseguindo sequer pegar na minha câmera, sem nenhuma vontade de olhar nela, apontar pra alguma coisa e tirar uma foto. Essa é a maior prova pra mim de que a fotografia é quase completamente uma coisa interior, muito pouco dependente de equipamentos, porque agora eu tenho os instrumentos, mas a fotografia dentro de mim está morta, e não tem nenhuma câmera que conserte ou emende isso. Não consigo mais tirar fotos, muito menos editar. Eu abro o lightroom e tudo me parece ridículo, insignificante. Consigo ver muito pouco naquelas fotos.
Acho que perdi o objeto, o olhar. Não sei mais o que me interessa, o que me instiga. O que significa que nada mais me interessa ou instiga. Ou algo assim. Continuo tendo algumas coisas nesse sentido, mas talvez nada que eu consiga acessar ou representar no mundo, de forma que pra mim, não existe mais nada que valha a pena registrar lá.
Talvez eu esteja em um ápice da minha introversão. Estou quase completamente imersa, o que me deixa meio cega pro que está fora.
Isso é muito chato pra mim porque uma das coisas que me ancorava no dia-a-dia era exercitar o olhar pra isso, encontrar coisas bonitas no mundo ou torná-las bonitas pela fotografia. Dar uma forma pros pequenos caos aleatórios, enquadrar uma tristeza ou um segredo que eu encontrava em um lugar ou outro. Agora não consigo ver nada, e tudo me parece muito do mesmo, ou coisa alguma.
E ao mesmo tempo, tenho estado muito entretida com coisas que aludem a destruição, mais do que o normal. Porque isso sempre me atraiu, e eu sempre brinco com o fim das coisas, o fim de tudo ou só de mim mesma. E nesse momento de desligamento com o mundo, uma das poucas coisas aonde vejo sentido é na destruição. Brincar com a fragilidade das coisas tem atraído meus olhos e o pouco que ainda tem no meu coração. Acho engraçado como tem toda uma estética envolvida nisso, e que é muito bem representada na cultura atual, que parece ter saído do tumblr e afins, e está até mesmo tomando as lojas de roupas, apesar de não todas. Aliás, tenho tido muita curiosidade sobre isso, sobre os modos de representação dos jovens hoje. Apesar de não ter feito nenhuma pesquisa técnica sobre isso ainda, é muito fácil perceber os padrões que se repetem, e a destruição, a insensibilidade forçada e exibida, a fuga constante mas não desesperada, e uma forte recusa a todo tipo de compromisso com certeza são algumas das coisas que são gritadas nesses meios. Quero dizer, tem muito mais coisa mostrada e envolvida nisso, e talvez eu esteja deixando de ver muito ou vendo muito de mim mesma em tudo, mas não devo estar 100% errada.
Queria falar bem mais sobre isso mas estou um pouco atrasada pra faculdade e o mundo continua lá.
Acho importante dizer que estou tentando me manter longe dos sentimentos, já que está bem claro que não estou pronta pra nada do tipo. Na verdade, acho que já disse isso no último post, quando falei sobre tentar me desligar e sumir do jeito que der. Não disse com essas palavras, mas era isso que significava. Estou tentando me manter o mais longe possível, de mim e dos outros, e tenho feito isso quimicamente, se posso dizer assim. Café pra acordar, remédio pra dormir, e assim vou. Eu digo que se eu tiver uma biografia ela vai se chamar Café e Rivotril, hahaha.
Eu queria falar sobre como estou me sentindo fora de lugar, e sem lugar nenhum, mas não sei se dá tempo. Sei que é algo relacionado a não me sentir em casa em lugar nenhum que não seja minha casa literalmente, o que ainda tem suas exceções. Às vezes me sinto muito sem controle e sem voz nos lugares, e quando acontece em todos os lugares, eu desabo um pouco. É muito desesperador não ter lugar, ter um corpo que não ocupa, só transita. Ninguém foi feito pra isso.
Vou ter que voltar nesse assunto outro dia.
Dill, xx.
P.S.: Tenho ouvido Without love da Alice Glass repetidamente. Ontem ouvi o dia inteiro. Acho meio óbvio o por quê.
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